Tudo roda, até 386
As empresas que resolveram migrar suas redes para o Linux
acabaram descobrindo outra grande vantagem nessa mudança de ambiente operacional:
o aproveitamento do parque de PCs já prestes a virar sucata.
Mais do que a economia em software, as empresas que portaram suas
redes para o Linux constataram que, com o novo ambiente operacional, ganhavam em
estabilidade e ainda aproveitavam velhos equipamentos 386 e 486, já prestes a virar
sucata. Afinal, as novas versões, cada vez mais "pesadas", do Windows (e seus aplicativos)
tornaram praticamente inviável o uso dessas máquinas mais antigas.
"Agora, com o MS Office 2000, por exemplo, seria muito difícil instalar
esse pacote nos micros 486", observa Sandro Lopes Ebbing, analista de sistemas da
Prefeitura Municipal de Foz de Iguaçu - que está substituindo sua rede HP-UX com estações
Windows por Linux. "É um absurdo ter de comprar um micro Celeron ou Pentium II para rodar
o Office 2000", acrescenta Ebbing.
Ele conta que, quando conheceu o Linux, em outubro do ano passado, logo
ficou interessado, principalmente por causa da escassez de recursos orçamentários da
administração pública para investir na atualização de sistemas de informática. Atualmente,
a prefeitura de Foz do Iguaçu tem um servidor corporativo Risc com sistema operacional
HP-UX, ao qual estão ligados 180 terminais e micros com Windows e a suite de aplicativos
MS Office - utilizada basicamente na área administrativa.
Com sua estrutura de postos de saúde em expansão, o município (que
tem 250 mil habitantes) teria de comprar novos equipamentos, além de várias cópias do
Office completo - apenas para usar em algumas aplicações. "Tudo isso ia sair muito caro",
lembra Ebbing.
Assim, ao elaborar seu Plano Diretor de Informática para 1999, a
prefeitura resolveu trocar o único servidor Risc por oito servidores Intel com Linux,
cluster e banco de dados corporativo. Uma dessas máquinas funcionará como servidor de
intranet, outra de Internet - a própria prefeitura passará a atuar como provedor Web da
administração municipal, em vez de usar os serviços de outro provedor (como vem fazendo).
"Como provedores, vamos dar acesso à Internet para as 55 escolas e os 18 postos de saúde
municipais, além da biblioteca e autarquias ligadas à prefeitura", explica.
De acordo com o Plano Diretor de Informática - cuja implantação depende
do encerramento do processo de licitação para compra dos equipamentos, previsto para o fim
deste ano -, a rede de micros da prefeitura deverá aumentar de 180 para quase 400. E, graças
ao Linux, serão aproveitadas várias máquinas 486 que, segundo Ebbing, estavam subutilizadas.
Outro fator que motivou o município a migrar para o Linux foi a
familiaridade dos funcionários com o ambiente Unix. Desde 1985, a prefeitura utiliza equipamentos
Cobra, Edisa e, agora, HP, baseados nesse ambiente operacional. Assim, não será preciso
fazer grandes investimentos em treinamento da equipe.
Melhor desempenho
Já o grupo Lael Varella, formado por várias empresas com diferentes áreas
de atuação, estava em busca de desempenho quando decidiu experimentar o Linux, há cerca de um ano.
As concessionárias de veículos e transportadoras do grupo, por exemplo, utilizam o sistema de
gestão Dealer System, da Spress Informática, que, na época, rodava em rede Netware, da Novell -
com desempenho inferior ao desejado. "O sistema da Spress funciona melhor em Unix", afirma Agnaldo
Marques Lemos, analista de suporte das Empresas Lael Varella.
Como também tinha servidores SCO Unix (bem como Windows NT), o grupo pensou em
trocar a rede Novell pelo sistema da SCO. "Só que ia ficar muito caro", conta Lemos. Foi quando
ele conheceu o Linux - na Comdex/Sucesu-SP 98. Por R$ 39, Lemos comprou uma caixa do sistema e
começou a testá-lo. Primeiro, em um servidor que deveria ficar rodando Linux por um mês. O sucesso
foi imediato e, em 20 dias, uma das máquinas Netware foi retirada de operação. Ao mesmo tempo,
outro servidores passaram a ter seus sistemas substituídos pelo Linux.
Durante esse processo, a equipe de suporte da Varella contou com a ajuda da
própria Spress, do provedor de Internet Planetarium, de Belo Horizonte, e da IBM Brasil - que hoje
usa o caso dessa empresa como referência mundial de teste dos servidores Netfinity com Linux.
"Os relatórios gerenciais do sistema da Spress, que nos servidores Compaq com Novell levavam duas
horas e meia a três horas para ficarem prontos, agora são gerados em um minuto e meio, nas máquinas
Netfinity com Linux", compara Lemos.
Além disso, ele calcula que a economia, em hardware e software, chega a cerca de
R$ 180 mil. Parte dela pode ser atribuída ao aproveitamento de 120 micros 386 e 486, que o grupo
estava prestes a jogar fora. "O Windows é muito pesado; com o Linux, foi possível aproveitar esses
equipamentos", conta o analista de suporte da Varella. "E, de quebra, o sistema ainda resolveu o
problema do Bug do Milênio."
Hoje, as Empresas Lael Varella (que estão espalhadas pelos Estados de Minas
Gerais, Espírito Santo, Goiás e São Paulo, além de Brasília) têm 500 estações/micros ligadas a
14 servidores Linux. Alguns equipamentos baseados nos outros sistemas operacionais ainda estão
em operação, mas Lemos espera concluir a migração total para Linux até março do ano que vem.
Integração via Linux
O projeto de integração das unidades da UNIMED do Estado de Santa Catarina
também está baseado no Linux. Há quase dois anos, a Federação das UNIMEDs de SC decidiu trocar
as conexões de dados que interligavam, a um custo alto, as redes de suas unidades (17 ao todo,
das quais 13 participam do projeto) pela ligação a provedores locais, via linha dedicada não
especializada. "Foi quando o Linux entrou nos gateways", conta Adilson Gonçalves Oliveira,
analista de teleprocessamento da Federação das UNIMEDs-SC.
Ele acrescenta que o projeto também prevê conexões com a Internet com
recurso VPN - Virtual Private Network. "Trata-se de uma implementação de software, dentro
do gateway Linux, que permite à rede da seccional acessar o banco de dados da Federação,
com todos os recursos de segurança, como se fosse uma estação interna dessa rede maior",
explica. Com isso, é possível consultar dados do conveniado e até obter autorizações automáticas
de consultas ou exames.
Por enquanto, o recurso de VPN está em uso em uma seccional da UNIMED de
uma cidade vizinha a Joinville. A intenção, contudo, é expandir sua utilização para as outras
unidades. O projeto da Federação também prevê o uso do Linux como servidor de banco de dados
e de rede - algumas UNIMEDs do Estado, por sinal, já estão testando o banco de dados Oracle
em servidores Linux. Oliveira revela ainda que esse sistema operacional poderá até tomar o
lugar do Windows NT hoje utilizado como servidor interno de e-mail, segundo ele, a principal
ferramenta na comunicação entre as UNIMEDs. "A tendência é a substituição do NT pelo Linux",
afirma. "O NT vem dando muito problema, enquanto os gateways com Linux funcionam muito bem,
com alta confiabilidade."